Liderança compassiva, Mindfulness para liderar com a cabeça e o coração
Diversos livros foram escritos defendendo distintas filosofias a respeito da liderança, todos levando em consideração a forma como líderes (daqueles emergentes até os mais experientes) otimizam o capital humano através de posicionamento que visa maiores lucros e investidores mais ricos.
Se você estudou a respeito de liderança, provavelmente atingiu certa exaustão e despreza a recente moda da Liderança Compassiva. Meu conselho: Não seja apressado.
A Liderança da Compaixão emergiu do campo crescente do Mindfulness, originalmente preconizada por Jon Kabat-Zinn como maneira de reduzir o stress. Compaixão e liderança raramente se relacionam positivamente e talvez, por isso, ressoam tanto. Como a competição global e o aumento de incertezas levaram organizações à falência, achatamentos e cortes (quase sempre de forma despreocupada e cruel- duas tendências que vão de mãos dadas), as pessoas têm se tornando cada vez mais famintas por um sentido mais profundo do trabalho que fazem em conexão a um bem maior. Portanto, esta fase tem servido a uma nova abordagem de liderança que transcende os procedimentos organizacionais tradicionais, para cuidar da condição humana no nível do coração. A Liderança Compassiva.
Uma das organizações que lidera a defesa e o ensino da Liderança Compassiva é a Search Inside Yourself Leadership Institute (que significa, instituto da liderança da busca interior). Aproximando-se do seu 5º aniversário, o SIYLI surgiu de uma iniciativa interna da Google para ensinar consciência plena (mindfulness). Desde então se tornou uma referência e alcançou um papel de dominância no assunto, introduzindo ensinos com fundamentos e o Programa de Liderança do “Engajamento” (“Engage” leadership program) em organizações por todo o mundo.
Marc Lesser, co-fundador e CEO da SIYLI, acredita que um aspecto central no cultivo da mindfulness é o aprofundamento tanto da compaixão por nós mesmos quanto pelos outros (incluindo aqueles que talvez nos resulte difícil de amar!). Lesser divide a compaixão em 3 domínios fundamentais:
Empatia: Sentir o que outra pessoa sente (ainda que seja desconfortável)
Cognição: Buscar entender o que a outra pessoa está pensando e a razão que encontrou em defender tal opinião (requerendo uma escuta com consciência plena)
Motivação: Tentativa de cuidar da preocupação dos outros e reduzir o seu sofrimento
Liderança Compassiva se inicia com a intenção de ver assim como os outros veem e sentir como os outros sentem. Com uma prática de empatia genuína, líderes são mais bem posicionados no cultivo da plena consciência ao outro, permitindo que ambos se preencham de todo o seu potencial e desencadeiem este feito aos demais ao seu redor no sentido de um bem maior. O que é um “bem maior”? De forma simplificada, um mundo onde existe menos sofrimento (incluindo aquele de auto-indução) e mais paz.
A abordagem holística dos programas corporativos de mindfulness explica a impulso que eles alcançaram em um período relativamente curto de tempo. Apoiando a que funcionários se conectassem ao que pensam e sentem (reduzindo o seu estado de inconsciência, presente em tantas organizações), e ensinando formas de fazer o corpo produzir curtos-circuitos em nossas respostas fisiológicas ao medo e à raiva, eles passam a lidar melhor com as emoções que, frequentemente, desviam o comportamento racional. De fato, pesquisas provaram que práticas de mindfulness feitas com dedicação, não apenas mudam o circuito neural com o passar do tempo, mas expandem a capacidade do indivíduo permanecer focado, difusa conflitos, constrói colaboração, se manifesta ainda que sob pressão e influencia positivamente o comportamento e o bem-estar dos demais.
A prática tem resultado relevante. Em 1989 (antes de que mindfulness tenha se tornado moda), Dr. Ellen Langer, professor de Psicologia na Universidade de Harvard escreveu o livro “Mindfulness”. Seus estudos contínuos desde a escrita desta obra (e sua consequente reedição em 2014) identificou fortes ligações entre mindfulness e a liderança efetiva. “Em mais de 30 anos de pesquisa, identificamos que o aumento da mindfulness aprimora o carisma e a produtividade, diminui a exaustão e os acidentes, e melhora a criatividade, a memória, a atenção, o afeto positivo, a saúde e, até mesmo, a longevidade. Quando plenamente atentos, aproveitamos mais oportunidades e evitamos os perigos que ainda não existem. Seus resultados são verdadeiros tanto para o líder quanto para o liderado”, Langer atestou em seu blog.
O que não se deve amar? Certamente muitas organizações (desde American Express à Ford) estão vendo a possibilidade de retorno (o chamado ROI) no investimento contínuo em programas de mindfulness. Os benefícios de se ensinar pessoas a viverem e lidarem com a mente e com o coração, de longe, transcende os resultados alcançados. Através do cultivo à uma abordagem de liderança centrada no ser humano e na compaixão, se incentiva a líderes mais corajosos. Aqueles mais apreensivos, em um ambiente de maior incerteza e risco, levam pessoas a tomarem decisões com base no medo do que pode dar errado e, assim, perdem todo o seu poder ao invés de comprometer-se a realizar a coisas de forma mais adequada, “empoderando” os demais.
Engajando-nos uns aos outros como seres humanos, não apenas como feitos humanos, Liderança Compassiva eleva a consciência das lideranças, servindo a um bem maior (não apenas aumentando o número de empregados e acionistas, mas na comunidade onde operam e em todo o planeta). Pode parecer uma aspiração audaciosa, mas acredito que, unidos ao nosso profundo desejo de conexão e contribuição a um nível emocional, até mesmo espiritual mais profundo, o efeito cascata da plena consciência coletiva pode desencadear as condições para a construção de um mundo melhor para todos nós. Certamente a ideia vale alguns minutos conscientes de sua consideração.
Leia o artigo original em inglês: https://www.forbes.com/sites/margiewarrell/2017/05/20/compassionate-leadership/#32c2c0b05df9